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Capital

Casa onde mulher foi morta e "crucificada" acumula sujeira, terços e santos

Cristiane Millan, de 42 anos, foi brutalmente assassinada com 36 facadas por "cliente insatisfeito"

Por Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 23/04/2024 20:51
Terço deixado no portão da casa onde mulher foi brutalmente assassinada, na Avenida Presidente Vargas (Foto: Juliano Almeida)
Terço deixado no portão da casa onde mulher foi brutalmente assassinada, na Avenida Presidente Vargas (Foto: Juliano Almeida)

Um ambiente completamente insalubre e cheio de referências religiosas. Assim descreveu a delegada Elaine Benicasa, titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), a casa onde a garota de programa, Cristiane Eufrásio Millan, de 42 anos, foi barbaramente assassinada com 36 facadas por "cliente insatisfeito". O cenário realmente chocou quem fez parte da investigação, conforme descrição feita à reportagem.

De fora, a residência, localizada em avenida de grande movimento, a Presidente Vargas, na Vila Duque de Caxias, em Campo Grande, já causa má impressão, não só pelo estado deteriorado, mas também pela quantidade de objetos acumulados na parte da frente - quatro cadeiras, sendo duas delas detonadas, por exemplo.

Na varanda, há toalhas e roupas penduradas nos encostos dos móveis e grades das janelas, além de sapatos espalhados. Há também várias caixas contendo objetos e sacos de lixo deixados pelo chão - um deles, contendo sapatos femininos.

Bastante espantada com a situação da casa, Elaine Benicasa também deu alguns detalhes nesta tarde. “Tinha muita sujeira, resíduo de alimento, resíduos fecais, muitos roupas espalhada pelo local. Não tem água na residência".

Móveis e sujeira espalhada varanda da residência (Foto: Juliano Almeida)
Móveis e sujeira espalhada varanda da residência (Foto: Juliano Almeida)

Duas versões - "Protegida" com terço no portão, artigos religiosos também estão distribuídos em vários cômodos do imóvel. Bíblias, imagens de santos - sejam estatuetas ou quadros - e crucifixos estão distribuídos por todos os cômodos. Em um deles, a polícia encontrou uma faca grande, possivelmente usada no crime, ao lado de um crucifixo.

Cristiane foi morta em um quarto onde estava apenas um colchão sujo no chão e um guarda-roupas. O assassino confesso alega, em depoimento, que fez sexo com a mulher ali e, depois, foi até a cozinha, onde buscou faca para matá-la.

Sobre o motivo da morte, ele deu duas versões: à PM (Polícia Militar), ao ser pego, Sérgio Guenka, de 52 anos, disse que "surtou" depois que a acompanhante recusou-se a fazer o programa sexual porque o achou muito feio. Já no interrogatório, conduzido pela Polícia Civil, afirmou que chegou à conclusão que a profissional do sexo seria uma mulher impura, que a Bíblia dizia isso e que pessoas "assim" não deveriam sobreviver.

Imagem religiosa no chão do imóvel (Foto: Juliano Almeida)
Imagem religiosa no chão do imóvel (Foto: Juliano Almeida)

Outro detalhe que causou espanto em quem participou da investigação foi a forma como o corpo da mulher foi deixado, ao lado de um guarda-roupas, no chão, como se a vítima estivesse crucificada. Apesar da semelhança com os assassinatos em série ocorridos há 16 anos, no interior de Mato Grosso do Sul, Guenka nega ser um imitador de Dyonathan Celestrino, o "Maníaco da Cruz".

No depoimento, ele mesmo se lembrou do caso e garantiu que não tinha o objetivo de ser comparado. “Ele disse que deixou o corpo daquele jeito propositalmente e queria chamar a atenção do crime para ele, e que gostaria de ser 'famoso' por essa hediondez cometida”, pontuou Elaine Benicasa.

Mais um pormenor faz crer que a profissional do sexo pode ter rejeitado o cliente, o que causou a fúria do assassino. Ela foi de carro até o local do encontro e tinha, no interior do veículo, agenda contendo outros programas anotados, além de muda de roupas para se trocar. Embora seja mais uma impressão da investigação, por essa especificidade, a vítima não demonstrou ser alguém que aceitaria qualquer coisa pelo dinheiro.

A polícia ainda não chegou à conclusão se houve ou não premeditação, se a vítima foi atraída para a morte. Fato é que o homem não demonstrou qualquer arrependimento. “Ao mesmo momento que ele demostra loucura, ele demostra frieza, premeditação. A forma que ele coloca o corpo para causar impacto na mídia, são várias nuances que ele nos deixa de certa forma estarrecidas”, afirmou a titular da Deam, na coletiva de imprensa desta tarde.

Sérgio Guenka, de 52 anos, em foto tirada no endereço onde vivia sozinho (Foto: Reprodução das redes sociais)
Sérgio Guenka, de 52 anos, em foto tirada no endereço onde vivia sozinho (Foto: Reprodução das redes sociais)

O crime - De acordo com as primeiras informações fornecidas pela Polícia Militar, o crime ocorreu no sábado (20) e a vítima não tem vínculo familiar com o suspeito. Somente nesta segunda-feira foi que o homem de 52 anos ligou para a irmã e disse que havia matado uma mulher.

Nesse meio tempo, Guenka levou "vida normal". "Passa dois dias com o corpo e segue sua rotina normal. Ele saiu para comprar salgados após o crime”, descreveu a delegada. Durante a investigação, um vizinho contou que viu quando Cristiane entrou na casa no sábado de manhã e que em seguida escutou uma música bem alta. “O som ficou no último volume, e ouviu gritos, mas a testemunha se defendeu dizendo que nunca imaginou que a mulher estava sendo esfaqueada ali”, disse Elaine durante a coletiva.

Sérgio foi preso em flagrante por ocultação de cadáver e responderá pelo crime de feminicídio.

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